segunda-feira, 28 de abril de 2025

entre o medo e a esperança


 

Ano 2025

Semana 17/52

Terça-feira, 10h30 é hora de começar a trabalhar.

Antes, houve tempo para o ginásio e um café com vista de mar – pequenos prazeres para iniciar o dia.

Eugénia, 33 anos faz um pedido de marcação.

Falamos ao telefone, acha que precisa de ajuda; não se sente bem, anda inquieta, mas… logo a seguir hesita: “se calhar, não é nada”.

Sinto-a a oscilar entre o estigma e a curiosidade.  O medo de ser "fraca" e a esperança de finalmente ser escutada. Não tem qualquer ideia sobre o que acontece numa sessão de acompanhamento psicológico e ainda menos na primeira.

Este medo do desconhecido é natural. Quando alguém procura apoio psicológico pela primeira vez, raramente sabe o que esperar. Imagina perguntas difíceis, silêncios constrangedores, diagnósticos que talvez não esteja preparado para ouvir.

A verdade é que a primeira sessão é, acima de tudo, um encontro.
Um espaço seguro onde uma estória começa a ser contada — sem pressa, sem obrigação de ter todas as respostas, sem necessidade de saber por onde começar.

Durante essa primeira sessão, conhecemo-nos.

Conversamos sobre o que trouxe o paciente até cá, o que o inquieta, o que deseja transformar.


Definimos juntos vários aspetos importantes: a duração e a periodicidade das sessões, e é pensado pelo psicólogo uma primeira hipótese terapêutica — uma bússola inicial para o caminho que se vai traçar.

Em média, cada sessão tem a duração de 45 minutos — o tempo ideal para manter o foco e permitir um trabalho profundo, sem ser exaustivo.


A periodicidade recomendada é semanal. É entre uma sessão e outra que acontece o processo mais silencioso e poderoso da mudança: o momento em que o psicólogo passa como que a habitar na cabeça do paciente. Quanto maior for o intervalo entre sessões, mais diluído se torna esse trabalho interno.

A primeira sessão não resolve tudo. Mas é onde algo muda: o silêncio começa a ter voz, o medo encontra espaço para ser olhado e a esperança, timidamente, acorda.

A Eugénia começará o seu trabalho terapêutico a 05 maio.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

a maior dificuldade não é marcar. é aparecer.

 

Ano 2025

Semana 16/52

A semana prevê-se curta, tem feriado na sexta que para muitos começa logo na quinta, depois do almoço. Aproveitando as férias escolares, eu estou fora. Organizei a agenda para trabalhar segunda e quarta.

Contra todas as expectativas, no final da manhã de segunda… zás! Assim num tirinho surgem três marcações na agenda digital! É impossível não sorrir quando isto acontece. É que não é uma, nem duas, são três. Fantástico! Único senão: são justamente para os dias em que não trabalho. Num ápice, organizo tudo e confirmo as marcações para terça-feira.

Porque sim - é difícil resistir a esse entusiasmo de quem decide cuidar de si.

O curioso vem depois. Na terça-feira, pelas 9h, lá estava eu pronta para uma nova viagem, um novo processo de autoconhecimento e… nada. Aguardo. E mais um pouco. Dez minutos depois da hora agendada mando uma mensagem. Como resposta: o silêncio.

Do lado de cá, a frustração ganha forma. Organizei tudo, mexi horários, revi o plano da semana. Escolheu-me - mas afinal, foi engano?

Paro. Respiro fundo. Porque eu sei como funciona.

Eu sei que, para muitos, a maior dificuldade não é marcar. É aparecer. É permitir-se ser visto, ouvido, acolhido — e, às vezes, até confrontado com o que sente. Isso assusta. Assusta muito.

A ciência psicológica ajuda-nos a compreender esta dificuldade.
Entre o impulso de marcar e a decisão de comparecer, o cérebro atravessa uma tensão interna conhecida como dissonância cognitiva — um desconforto que surge quando os desejos entram em conflito com os medos.

Ao marcar uma consulta, existe o desejo de mudança. Mas, ao mesmo tempo, surgem pensamentos que desafiam esse impulso: “E se não souber o que dizer?”, “E se me descontrolo?”, “E se me julgarem?”

Estes pensamentos são formas de resistência psíquica, mecanismos inconscientes de defesa que o ego utiliza para evitar o contacto com conteúdos internos dolorosos.
Além disso, o próprio cérebro — especialmente o sistema límbico, que gere as emoções e o medo — pode reagir à ideia de exposição emocional como se fosse uma ameaça real, levando ao evitamento.

Marcar é racional. Ir é emocional. E nem sempre as duas partes da mente caminham ao mesmo ritmo.

Marcar, muitas vezes é um impulso — aquele momento em que algo dentro de nós diz: “Chega. Preciso de ajuda.”

Aparecer... aparecer é muito mais que isso. É reconhecer que se está em sofrimento. É admitir, nem que seja em silêncio, que não se consegue sozinho. E isso, chega a pesar mais do que qualquer sintoma.

E a vergonha? Essa safada…

E depois há o medo de ser fraco, de parecer perdido, de não saber explicar o que se sente.

Instala-se a dúvida… entre cuidar-se ou calar-se. Entre dar o passo ou voltar atrás. Entre ir ou não ir.

Como psicóloga, tenho constatado que não é sobre insistir. É sobre esperar com escuta.


Às vezes voltam. Às vezes não. Mas cada marcação é já um ato de coragem. Mesmo quando não dá para aparecer.

Pedir ajuda não é sinal de fraqueza. É sinal de querer encontrar o caminho.

E se não for hoje, não tem problema. Quando for, cá estarei.

Sobre bullying