Ano 2025
Semana 16/52
A semana prevê-se curta, tem feriado na
sexta que para muitos começa logo na quinta, depois do almoço. Aproveitando as
férias escolares, eu estou fora. Organizei a agenda para trabalhar segunda e
quarta.
Contra todas as expectativas, no final da
manhã de segunda… zás! Assim num tirinho surgem três marcações na agenda
digital! É impossível não sorrir quando isto acontece. É que não é uma, nem
duas, são três. Fantástico! Único senão: são justamente para os dias em que não
trabalho. Num ápice, organizo tudo e confirmo as marcações para terça-feira.
Porque sim - é difícil resistir a esse
entusiasmo de quem decide cuidar de si.
O curioso vem depois. Na terça-feira, pelas
9h, lá estava eu pronta para uma nova viagem, um novo processo de
autoconhecimento e… nada. Aguardo. E mais um pouco. Dez minutos depois da hora
agendada mando uma mensagem. Como resposta: o silêncio.
Do lado de cá, a frustração ganha forma.
Organizei tudo, mexi horários, revi o plano da semana. Escolheu-me - mas afinal,
foi engano?
Paro. Respiro fundo. Porque eu sei como
funciona.
Eu sei que, para muitos, a maior dificuldade
não é marcar. É aparecer. É permitir-se ser visto, ouvido, acolhido — e,
às vezes, até confrontado com o que sente. Isso assusta. Assusta muito.
A ciência psicológica ajuda-nos a
compreender esta dificuldade.
Entre o impulso de marcar e a decisão de comparecer, o cérebro atravessa uma
tensão interna conhecida como dissonância cognitiva — um desconforto que surge
quando os desejos entram em conflito com os medos.
Ao marcar uma consulta, existe o desejo de
mudança. Mas, ao mesmo tempo, surgem pensamentos que desafiam esse impulso: “E
se não souber o que dizer?”, “E se me descontrolo?”, “E se me julgarem?”
Estes pensamentos são formas de resistência
psíquica, mecanismos inconscientes de defesa que o ego utiliza para evitar o
contacto com conteúdos internos dolorosos.
Além disso, o próprio cérebro — especialmente o sistema límbico, que gere as
emoções e o medo — pode reagir à ideia de exposição emocional como se fosse uma
ameaça real, levando ao evitamento.
Marcar é racional. Ir é emocional. E
nem sempre as duas partes da mente caminham ao mesmo ritmo.
Marcar, muitas vezes é um impulso — aquele
momento em que algo dentro de nós diz: “Chega. Preciso de ajuda.”
Aparecer... aparecer é muito mais que isso.
É reconhecer que se está em sofrimento. É admitir, nem que seja em silêncio,
que não se consegue sozinho. E isso, chega a pesar mais do que qualquer
sintoma.
E a vergonha? Essa safada…
E depois há o medo de ser fraco, de parecer
perdido, de não saber explicar o que se sente.
Instala-se a dúvida… entre cuidar-se ou calar-se. Entre dar o passo ou
voltar atrás. Entre ir ou não ir.
Como psicóloga, tenho constatado que não é sobre insistir. É sobre esperar com escuta.
Às vezes voltam. Às vezes não. Mas cada marcação é já um ato de coragem. Mesmo
quando não dá para aparecer.
Pedir ajuda não é sinal de fraqueza. É sinal
de querer encontrar o caminho.
E se não for hoje, não tem problema. Quando for, cá estarei.
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