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A escola acabou de começar.
Ainda cheira a novidade e festa. A escola é um lugar complexo, onde cabem
aprendizagens, descobertas, amizades e desafios. É exigente andar na escola,
sempre foi e cada vez mais parece ser. Desde o primeiro dia, há a pressão de
corresponder às expectativas dos professores, de conquistar o seu olhar de
aprovação; e há também a necessidade de ser aceite pelos colegas. Às vezes
parece que ser aceite é um sorteio, um golpe de sorte ou de azar. É aqui que,
tantas vezes, entra o bullying.
Curiosamente, duas obras,
aparentemente distantes — a série Invisible (Disney+) e o filme de
animação Viver em Grande ( https://www.youtube.com/watch?v=0O5kqfC45Cc ) — trazem em
comum um olhar sensível sobre o que significa não ser aceite, sentir-se
excluído e lutar por um lugar no mundo. Ambas lembram que, muitas vezes, a
maior batalha acontece dentro de nós, quando acreditamos que não pertencemos.
O bullying não é apenas um
conjunto de provocações ou “brincadeiras sem maldade”. É sobretudo sobre medo.
Um medo levado ao limite: intenso, avassalador, difícil até de pôr em palavras.
É uma violência que mina a autoestima, corrói a confiança e deixa marcas
profundas.
Em Invisible, vemos como o isolamento e a dor podem tornar alguém quase
“transparente” aos olhos dos outros. Já em Viver em Grande, a mensagem é
diferente, mas complementar: para ser aceite, não precisamos de nos esconder —
precisamos de coragem para ocupar o nosso espaço no mundo.
Na prática clínica, observa-se ainda outro fenómeno: uma crescente dificuldade social das crianças em lidar com os outros. Muitas têm dificuldade em aceitar críticas, em negociar ou fazer concessões, e tendem a rotular de bullying qualquer situação negativa. Nem tudo é bullying. O que o distingue é o medo que provoca, a forma reiterada como acontece e o facto de ter sempre a mesma vítima. Vulgarizar o termo retira-lhe gravidade e, ao fazê-lo, invisibiliza as situações verdadeiramente graves.
Muitas vítimas de bullying
passam a acreditar que “o problema está nelas”. Desenvolvem ansiedade,
depressão, dificuldades relacionais e, por vezes, carregam esse peso até à vida
adulta. Por isso a intervenção precoce é fundamental: identificar sinais, criar
espaços de escuta e reforçar o valor único de cada criança e jovem.
O bullying não é um “rito de
passagem”. É um problema sério de saúde psicológica e social. Cabe a todos -
pais, professores, colegas e comunidade — transformar a escola (e já agora
também a vida) em espaços seguros, onde cada um possa ser visto, ouvido e
respeitado.
E talvez seja esta a grande
lição que Invisible e Viver em Grande deixam: ninguém deve viver
escondido no medo. Quando há apoio, empatia e coragem, todos podemos — de facto
— viver em grande.