quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Sobre bullying

 

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A escola acabou de começar. Ainda cheira a novidade e festa. A escola é um lugar complexo, onde cabem aprendizagens, descobertas, amizades e desafios. É exigente andar na escola, sempre foi e cada vez mais parece ser. Desde o primeiro dia, há a pressão de corresponder às expectativas dos professores, de conquistar o seu olhar de aprovação; e há também a necessidade de ser aceite pelos colegas. Às vezes parece que ser aceite é um sorteio, um golpe de sorte ou de azar. É aqui que, tantas vezes, entra o bullying.

Curiosamente, duas obras, aparentemente distantes — a série Invisible (Disney+) e o filme de animação Viver em Grande ( https://www.youtube.com/watch?v=0O5kqfC45Cc ) — trazem em comum um olhar sensível sobre o que significa não ser aceite, sentir-se excluído e lutar por um lugar no mundo. Ambas lembram que, muitas vezes, a maior batalha acontece dentro de nós, quando acreditamos que não pertencemos.

O bullying não é apenas um conjunto de provocações ou “brincadeiras sem maldade”. É sobretudo sobre medo. Um medo levado ao limite: intenso, avassalador, difícil até de pôr em palavras. É uma violência que mina a autoestima, corrói a confiança e deixa marcas profundas.


Em Invisible, vemos como o isolamento e a dor podem tornar alguém quase “transparente” aos olhos dos outros. Já em Viver em Grande, a mensagem é diferente, mas complementar: para ser aceite, não precisamos de nos esconder — precisamos de coragem para ocupar o nosso espaço no mundo.

Na prática clínica, observa-se ainda outro fenómeno: uma crescente dificuldade social das crianças em lidar com os outros. Muitas têm dificuldade em aceitar críticas, em negociar ou fazer concessões, e tendem a rotular de bullying qualquer situação negativa. Nem tudo é bullying. O que o distingue é o medo que provoca, a forma reiterada como acontece e o facto de ter sempre a mesma vítima. Vulgarizar o termo retira-lhe gravidade e, ao fazê-lo, invisibiliza as situações verdadeiramente graves.


Muitas vítimas de bullying passam a acreditar que “o problema está nelas”. Desenvolvem ansiedade, depressão, dificuldades relacionais e, por vezes, carregam esse peso até à vida adulta. Por isso a intervenção precoce é fundamental: identificar sinais, criar espaços de escuta e reforçar o valor único de cada criança e jovem.

O bullying não é um “rito de passagem”. É um problema sério de saúde psicológica e social. Cabe a todos - pais, professores, colegas e comunidade — transformar a escola (e já agora também a vida) em espaços seguros, onde cada um possa ser visto, ouvido e respeitado.

E talvez seja esta a grande lição que Invisible e Viver em Grande deixam: ninguém deve viver escondido no medo. Quando há apoio, empatia e coragem, todos podemos — de facto — viver em grande.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Um Novo Ano Letivo: Coragem, Curiosidade e Confiança

 
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A cada setembro, em cada escola, para cada criança, abre-se um novo capítulo cheio de páginas em branco pronto para ser escrito com novos desafios, bastantes conquistas e alguns falhanços, como convém em todas as aprendizagens.

Este é um momento decisivo para cada criança: elas sãos as protagonistas desta aventura! Desejo que tenham coragem para os desafios, curiosidade para aprender e confiança para acreditar em si mesmas.

Para que esta confiança exista, não se espera que os pais chorem, nem que precisem de tirar dias de férias para ficarem em estado de prontidão. Espera-se que os pais mostrem segurança e firmeza na hora de os acompanharem neste marco. Ir para a escola aprender é uma coisa fantástica! É todo um mundo que se abre e que fica à disposição.

A escola é um meio para chegar a algum lado, não um fim em si mesmo.


O que pensarão os filhos se virem os pais a chorar? Se os sentirem inquietos e nervosos?

Com que confiança olharão eles para a escola ou para os adultos que lá estão?

Na escola ensaiarão as primeiras formas de se posicionarem na sociedade a solo: quererão corresponder ao que o professor espera deles; tentarão ler e decifrar os outros para definirem alianças e rivalidades; testarão a aceitação e a frustração. É na escola que experimentam a vida em sociedade na sua plenitude.

Os filhos não são dos pais, são uma responsabilidade destes, e isso tem muito impacto porque implica prepará-los bem para os desafios, não os viver por eles ou em vez deles.

Deixo-vos um desafio:

·        Ao deixarem o vosso filho na escola no primeiro dia, tirem-lhe uma fotografia bem bonita, à porta da escola;

·        Durante o dia e enquanto a criança estiver na escola, escrevam-lhe uma carta sobre o que desejam para ele nesse ano letivo (evitem o uso de “tipo” e  escrever palavras com k, a menos que seja kiwi);

·        Juntem-lhe a foto e guardem-na bem!

·        No último dia de aulas repitam a operação fotografia;

·        No fim do ano letivo, depois da festa e já em casa, entreguem-lhes a carta e leiam-na em conjunto.

·        Repitam todos os anos

Terão construído ótimas memórias!

Ao longo do ano, os filhos vão tropeçar, levantar-se, rir, chorar, aprender e crescer. Cabe aos pais estarem presentes como porto seguro — firmes, mas com espaço para que sejam os miúdos, os protagonistas da sua própria história.

Que este ano letivo seja feito de aprendizagens, amizades e muitas conquistas!

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Suicídio: factos e temores

 

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A Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio em conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS) instituíram o dia 10 de setembro como Dia  Mundial da Prevenção do Suicídio com o propósito de lembrar que falar sobre este tema salva vidas. Não é um mero marco no calendário, é um convite à reflexão coletiva: quebrar o silêncio, reduzir o estigma e olhar para a saúde mental com a mesma urgência e cuidado com que se olha para a saúde física.

E quando olhamos para os números, percebemos a urgência desta conversa: entre os jovens dos 15 aos 29 anos, o suicídio surge como segunda causa de morte, logo atrás dos acidentes de trânsito — um sinal claro de que cuidar da saúde mental é uma prioridade que não pode esperar.

Estima-se que a taxa de incidência é de cerca de 9,1 por 100.000 habitantes, com os homens a apresentarem uma taxa mais de duas vezes superior à das mulheres.

Este é um tipo de morte que pode ser evitável e todos podemos contribuir ativamente para ajudar alguém em risco. Trata-se de um problema com impacto nas famílias, nas comunidades e na sociedade.

Os pensamentos sobre o suicídio podem afetar qualquer pessoa, de todas as idades e em qualquer momento. Para quem tem ideias de suicídio é provável que exista uma sensação de desesperança e inutilidade há algum tempo. É possível não conseguir identificar o que provocou estas ideias, e isso não tem mal nenhum. Habitualmente é uma combinação de fatores e pode não haver uma causa evidente.

Para uma pessoa com pensamentos suicidas é natural que sinta que não há nada a fazer. Não é verdade. Há a quem pedir ajuda. A Psicologia pode ajudar. Há esperança!

Em Portugal está a funcionar desde hoje uma linha dedicada a esta temática, o número é o 1411 e está disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana.

Falar pode salvar vidas. O silêncio pesa, mas partilhar torna o fardo mais leve.

Conduzir exige prudência. Falar sobre aquilo que sentimos requer coragem — e é essa coragem que tantas vezes falta. Se usamos cinto de segurança para proteger o corpo, porque não haveríamos de procurar ajuda para proteger a mente? Procurar ajuda jamais é um sinal de fraqueza.

Falar sobre saúde mental é falar sobre vida. Se conhece alguém em sofrimento, ofereça presença e escuta; se é consigo, permita-se pedir ajuda. Procurar apoio não é sinal de fraqueza — é sinal de coragem. Há alternativa e há quem esteja disposto a escutar.

 

Se tem pensamentos de suicídio ou pretende ajudar alguém pode contactar:

a Linha SNS 24 – 808242424 | Linha de Prevenção do Suicídio 1411

Em caso de emergência, risco de vida, ligue imediatamente para o 112 do INEM

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

É Dia Nacional do Psicólogo

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Ser Psicólogo não é ter uma profissão, é ser uma profissão.

Recorrer ao apoio psicológico num momento de vulnerabilidade é um ato de coragem e merece ter acolhimento.

Cada uma das pessoas que se dispõe a confiar em mim é uma responsabilidade e fica comigo para sempre!



quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Regressos

 

regressos

A forma regressos é [masculino plural de regresso].  Origem: latim progressus, -us.

Regresso |é|

(re·gres·so)

nome masculino

1. Acto de regressar. = RETORNO

2. Volta. ≠ IDA

3. Recurso contra alguém.


"regressos", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/regressos.

 

Setembro é o mês dos regressos. Regresso ao trabalho. Regresso à escola. Regresso ao trânsito. Regresso à ditadura do relógio com horas para quase tudo. É o regresso à rotina.

Mesmo para quem não deixou as férias, setembro sabe a começo. Até para quem não esteve de férias, setembro cheira a início.

Setembro tem gosto de excitação de volta a fazer tudo melhor. Não sinto o mesmo com janeiro.

Esta possibilidade que setembro oferece de recomeçar devia ser mais valorizada. É extraordinário a sensação de regressar. Baterias carregadas para voltar ao mesmo sítio ou a outro novo, a novos ou aos mesmos de sempre.

Setembro devia ser o mês 1 do calendário.

Devia ser o mês das resoluções e das listas de coisas a concretizar. Devia e pode!

É melhor ter um plano do que navegar à vista.

Regressar à rotina é uma altura mesmo boa para definir prioridades pessoais e profissionais, para estipular metas e escolher objetivos. É uma altura excelente para fazer escolhas e desenhar o mapa para enfrentar os medos e valorizar o capital interno.

Que desafio é recomeçar!

Que alegria pode ser recomeçar!

Sobre bullying